Fotos: Max Rodrigues/Farol
Família que terá só farinha com feijão na ceia de Natal lamenta falta de solidariedade em Serra Talhada
O relógio marcava 10h48 desta segunda-feira (24), quando escutei a voz um pouco ansiosa ao telefone, arfando e embalada pela pergunta cortante: “Alô, aqui é Walter! Walter do Mutirão. Vocês não vão doar cesta básica esse ano?”. Do outro lado da linha, estava este repórter. Após um breve silêncio, devolvi constrangido. “Oh, Seu Walter. O Farol não fez campanha de arrecadação esse ano. Nos desculpe”.
E foi assim, amargando um sentimento de vergonha, que tentei saber o que a família do pedreiro Walter Gomes dos Santos, 63 anos, morador do bairro Mutirão em Serra Talhada, iria comer na tradicional ceia de Natal. “Rapaz, o que tenho aqui pra hoje é farinha, feijão e um pouquinho de arroz”, devolveu. “Farinha, feijão e arroz, seu Walter?”, voltei a indagar, com espanto.
“Isso!”, confirmou o pedreiro. Em 2016, o Farol lançou uma campanha de doação de alimentos onde a casa de Walter Gomes foi uma das beneficiadas com as entregas. “Naquele ano o Natal foi melhor”, lembrou ele, detalhando que deu até para chamar alguns vizinhos em volta de sua mesa.
NATAL VERSUS REALIDADE
O pedreiro vive com a esposa, Ana Cleide, dona de casa de 43 anos. Com ela divide a responsabilidade de cuidar de três netos (um de 9 anos, outro 10 e um bebê de 9 meses) e mais um filho, já adulto, que está desempregado. Seu Walter também está. E não tem mais forças de enfrentar a dura lida na construção.
Walter Gomes mostra o que terá à mesa na ceia de Natal deste ano
Meses atrás ele foi diagnosticado com câncer de próstata. Sorrateira, a doença aos poucos foi sequestrando a vitalidade do sertanejo, e sussurrando em seu ouvido como um velho juiz numa sentença: “Determino sobre a tua vida, Walter Gomes dos Santos, o fim da carreira de pedreiro”.
Atualmente, devido o diagnóstico do câncer, Walter recebe um auxílio de R$ 940 e com ele tenta manter-se firme a cada armadilha do destino. Com os parentes, o pedreiro se espreme em pouco menos de 6 metros quadrados, em uma casa de alvenaria ocupada fruto de um projeto de urbanização de R$ 6 milhões que teve início em 2008 [relembre] e que ainda se encontra, curiosamente, inacabado.
O auxílio de R$ 940 chegará ao fim em dois meses. O pedreiro diz isso como se estivesse prevendo algo ainda mais grave que passar o Natal comendo farinha, arroz e feijão na ceia. Com o auxílio tenta quitar gás, luz, água, comprar comida, remédios e ainda administrar viagens para tratamento do câncer em Recife.
ESPIRITO NATALINO ?
Passavam 30 minutos de nossa conversa, ao telefone, quando indaguei: “E o Natal, Seu Walter? O que o Natal representa para o senhor?”
“Ah, o Natal representa paz, harmonia e bondade. Mas até agora eu não estou vendo isso não, por aqui”, devolveu o sertanejo do bairro de menor Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de Serra Talhada.
Após a reposta, uma pausa:
“Só a paz… Ainda tenho a paz porque só a paz é importante para tudo”, disse Walter dos Santos, corrigindo a si mesmo, e lançando no ar que a bondade e a harmonia são relíquias ao verdadeiro espírito natalino. Por isso, a certeza:
“Hoje esse Natal vai ser meio diferente”.
PARA QUEM PUDER AJUDAR
Walter Gomes dos Santos mora na quadra 10, lote 13 do Mutirão. Como ele, dezenas de famílias humildes dali gostariam de receber cestas básicas e comer algo mais que farinha, arroz e feijão na ceia de Natal deste ano.
Seu número de celular é: (87) 9620-7251. Bom Natal a todos!
Do Farol de noticias