SSPDS registra mortes de serra-talhadenses em Milagres como latrocínio; Família está revoltada
Um mês e meio passou desde a morte de suspeitos e reféns em um episódio que ficou conhecido como ‘Tragédia em Milagres’. O crime da madrugada do dia 7 de dezembro de 2018, no interior do Ceará, permanece cercado por dúvidas, sendo a maior delas: de onde partiram os disparos que mataram cada uma das 14 pessoas?
Nas estatísticas de vítimas de Crimes Violentos Letais e Intencionais (CVLIs), a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS) considera que os seis reféns alvejados foram vítimas de latrocínio. Com o caso sendo registrado como roubo seguido de morte, a ideia passada no documento é de que foram os assaltantes os responsáveis por matar quem não estava envolvido na quadrilha.
O latrocínio foi elencado como natureza do fato pelas mortes de Vinícius de Souza Magalhães, 14; João Batista Campos Magalhães, 49; Gustavo Tenório dos Santos, 13; Claudineide Campos de Souza Santos, 41; Cícero Tenório dos Santos, 60; e Francisca Edneide da Cruz Santos, 49.
Sobre os outros oito mortos na tragédia não há nenhum registro do fato. O esperado é que os nomes de cada um destes suspeitos de compor a quadrilha que se preparava para assaltar duas agências bancárias surjam na lista de mortes por intervenção policial contabilizadas no último mês de dezembro e ainda não divulgada oficialmente pela Secretaria.
Luto
Vera Magalhães, irmã de João Batista, afirma não acreditar que tenha se tratado de um latrocínio, e sim, que o irmão foi vítima de uma ação desastrosa dos policiais militares durante aquela madrugada.
“Nós estamos revoltados com isso. Para mim, foram os policiais. Os criminosos não iam matar os escudos humanos deles e ficar sem essa moeda de troca. O que houve foi a Polícia que chegou atirando. Nada vai trazer meu irmão de volta. Queremos pelo menos Justiça. A gente está esperando a justiça agir. O celular do meu irmão foi todo furado de bala. Eu sei que tem como investigar de onde vieram esses tiros. Queremos uma investigação limpa, que não tome partido. Se a Polícia achava que ele era bandido, que tivesse chegado prendendo, não atirando. Era o certo a ser feito”.
Investigação
Foi por meio de troca de informações de Inteligência de policiais de Sergipe, Alagoas, Bahia e Ceará que a operação para evitar os ataques aos bancos foi montada. Servidores da Polícia Militar do Estado do Ceará prepararam uma emboscada logo na estrada. O relatório policial referente ao ocorrido em Milagres apontou que cada um dos policiais estava em posse de um fuzil.
Três dias após a tragédia, o governador do Ceará, Camilo Santana, anunciou que os 12 PMs foram afastados dos serviços até que a apuração do grupo especial de investigação da ação que resultou na morte de 14 pessoas fosse finalizada. A determinação era para que os 12 permanecessem sob serviço administrativo até a conclusão da investigação.
Conforme informações obtidas pela reportagem, um destes policiais é um major que, no fim da semana passada, voltou à ativa e participou das diligências que resultaram na apreensão de quase duas toneladas de haxixe, em Fortim, litoral leste do Ceará.
Outro fato apurado é que parte dos laudos referentes ao caso em Milagres foi concluída. O atraso na entrega de alguns documentos essenciais para a investigação deve fazer com que o inquérito seja prorrogado. A reconstituição das cenas do crime também segue sem data marcada.
A reportagem entrou em contato com a SSPDS a fim de esclarecer por quais motivos as mortes foram computadas como latrocínio. Em nota, a Pasta informou que o inquérito relativo a esta ocorrência segue em andamento e as mortes por intervenção policial serão publicadas em tabela do balanço mensal, que ainda não foi finalizado.
Do Diário do Nordeste