A assistente social Maria das Graças Conceição dos Santos foi a personagem principal da reportagem que abriu o Fantástico deste domingo (foto). Ela mora em Maceió e contou o pesadelo que vive depois de cair no golpe do Jogo do Tigrinho. “Parece que você tá brincando, mas nessa brincadeira o seu dinheiro vai”, diz ela em entrevista à repórter Giuliana Girard, que veio à capital alagoana para contar a história.
O jogo é um caça-níquel online que virou febre pelo Brasil. E nada tem de brincadeira. Um dado essencial para explicar o sucesso do negócio é o trabalho de influenciadores que incentivam gente de todos os perfis sociais. Todo santo dia aparecem casos de pessoas que perdem até o patrimônio da família ao embarcar na jogatina virtual. Os influenciadores contam que ganharam milhões com o “inocente” Tigrinho.
Para conseguir jogadores, a turma de influencers posa nas redes sociais com carrões que custam acima de 1 milhão de reais. Mas essa riqueza toda não vem da sorte no jogo. Eles são pagos por empresas justamente para enganar seus seguidores, convencendo-os a embarcar na ilusão de ganhar muita grana. Parece fácil, mas é um golpe. Falei de empresas, mas na verdade são organizações criminosas, segundo a polícia.
Como o CM informou na semana passada, a Polícia Civil de Alagoas deflagrou a operação Gamer Over, que apreendeu carros, joias, uma lancha, celulares, dinheiro e passaportes de vários suspeitos no esquema. As buscas ocorreram em cinco bairros da capital e no município de Marechal Deodoro. Os bens apreendidos somam mais de 38 milhões de reais. Foi esta operação que provocou a reportagem do Fantástico.
O trabalho da PC. A repórter do Fantástico conta que o esquema foi descoberto pela Delegacia de Estelionato de Maceió após o depoimento da assistente social Maria das Graças, vítima da fraude. Ela contou que passou a jogar após seguir as recomendações de uma influenciadora chamada Paulinha Ferreira. A moça aparecia ganhando dinheiro fácil e recomendou o link. Mas tudo isso não passava de armação.
Os delegados Eduardo Mero e Lucimério Campos relatam como os golpistas agem. Gravações mostram “agentes” e influenciadores combinando os termos das postagens para enganar seguidores. A operação da polícia alagoana chegou a 11 influenciadores e agentes. Por meio de nota assinada por advogados, negam as acusações.
O Fantástico mostrou ainda o relato do empresário Rafael Tenório, ex-presidente do CSA. Vários funcionários de uma de suas empresas estavam buscando o RH para pedir empréstimos, adiantamentos e até acordos para demissão. Ao apurar o inusitado movimento, Tenório descobriu que todos estavam endividados após perder dinheiro no Jogo do Tigrinho. Um funcionário perdeu 12 mil reais do Fundo de Garantia.
Ao Fantástico, Maria das Graças fala da hesitação em procurar a polícia, mas depois decidiu registrar denúncia. Ela vendeu uma pequena loja que tinha após perder cerca de 200 mil reais no jogo. “Tem muitas pessoas que estão na minha situação, ou muito pior”.
Pessoas recebem propostas para entrar no jogo até pelo WhatsApp, geralmente com perfis falsos, segundo a reportagem. O Tigrinho e jogos semelhantes estão hospedados em plataformas clandestinas, sem regulamentação – um desafio para autoridades.